Ministério da Palavra e Ministério da Liturgia

Padre Rui da Silva Braga _ Paróquia Maria Mãe de Deus – Cabedelo PB


Ministério da Palavra e Ministério da Liturgia:

A 46ª Assembléia dos Bispos do Brasil que aconteceu no mês de abril desse ano, em Itaici, São Paulo, revelou o caráter misterioso e sagrado dos ministérios da Liturgia, da Palavra e da Caridade, que devem ser vivenciados na comunidade e animados pelos seus discípulos missionários à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres. Nesse número e no próximo do nosso Caminhando Juntos vamos aprofundar, a partir do texto final da Assembléia dos Bispos do Brasil, esses três ministérios.

a) Ministério da Palavra:

Ao tratar do ministério da palavra, o texto inicia dizendo que “a proclamação da palavra de Deus pela igreja é decisiva para a fé do cristão, já que ela possibilita o acolhimento livre do anúncio salvífíco da pessoa de Cristo, acolhimento esse possibilitado pela atuação do Espírito Santo" (n.61) . Mas adiante diz que ”é pela pregação da palavra que todos podem ter acesso à fé e a salvação chegando a conhecer o Deus único e verdadeiro, e a Jesus Cristo, que o pai enviou" (n 66). Citando papa Bento XVI ,no discurso inaugural de Aparecida, lembra que" não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte á vida e, com isso, uma nova orientação decisiva" (n.61).
O apóstolo Paulo nos diz que" a fé entra pelo ouvido “(Rm 10,17).A grande afirmação de fé do povo de Israel é justamente essa: "Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor" (Dt 6,4). Deus fez de Israel um reino de sacerdotes para ouvir a sua voz e guardar a sua aliança (Ex. 19,3-6).
O texto das Diretrizes refere-se a uma pastoral bíblica que seja escola de conhecimento da palavra e comunhão com Jesus. Reforça a leitura orante, pessoal e comunitária, como forma privilegiada de aproximação da Sagrada Escritura. Nesse contexto, recomenda que a paróquia assegure a iniciação cristã de adultos batizados e não suficientes evangelizados e eduque na fé as crianças em processo de iniciação e os batizados (cf. n. 63).
O texto da CNBB enfatiza que o ministério da Palavra exige o serviço da catequese, pois esta “fortalece a conversão inicial e permite que os discípulos missionários possam perseverar na vida cristã e na missão em meio a um mundo que os desafia". Pede-se então uma catequese renovada, de inspiração catecumenal, permanente, não apenas ocasional; verdadeira escola de informação integral, não apenas transmissão de doutrina; prioritariamente catequese adulta com adultos, não só dirigida ás crianças a aos jovens (cf. n. 64).
E deixa claro que a Palavra não é uma idéia, mas uma comunicação de vida, Deus se revelando ao seu povo. Por isso, aponta a liturgia como lugar de escuta, reafirmando o que diz o Sacrosnctum Concílio n.7: “Cristo está presente em sua palavra, pois é Ele quem fala quando se lêem as Sagradas Escrituras" (cf. n 62). Chama a atenção para quem exerce o ministério da Palavra nas comunidades Eclesiais “para que a palavra seja claramente anunciada nas celebrações ao longo do ano litúrgico, seja comentada e refletida com homilias cuidadosamente preparadas, e encarnada na vida" (62). Com isso deixa clara a dimensão evangelizadora da própria liturgia.

b) Ministério da Liturgia:

Ao falar sobre o ministério da Liturgia, o texto afirma, já no início, que a Liturgia ocupa na ação evangelizadora da igreja um lugar central. Memorial da páscoa de Cristo e do seu povo, ela cumpre a função de 'cume e fonte da ação da igreja'. Nela o discípulo realiza o mais íntimo encontro com o seu Senhor e dela recebe a motivação e a força para sua missão na igreja e no mundo. (cf. n. 67-68). Reafirma, portanto, a relação liturgia-vida e liturgia espiritualidade (cf. SC 140).
Insiste sobre o direito e o dever, por parte do povo, de uma participação ativa, interna e externa, consciente, plena e frutuosa, chamado à atenção para a diversidade dos ministérios, ordenados e leigos, em, função dessa participação. Lembra a importância da formação que qualifique a atuação dos ministros e ministras nos diferentes serviços e da própria assembléia, sugerindo como mas adequado o método mistagógico. E tudo isso por uma razão teológica: o fato de a igreja ser “comunidade reunida no Espírito", ou como se afirmou no concílio, o povo de Deus, Corpo de Cristo, onde cada pessoa tem uma função a serviço de todos.
O texto das Diretrizes deu ênfase ao domingo, dia em que à comunidade se reúne para ouvir a Palavra e celebrar a eucaristia. Recomenda a celebração Dominical da Palavra presidida por ministro ou ministra leigo nos lugares onde não é possível a presença do ministro ordenado.Valorizou o ano litúrgico, com sua força e eficácia sacramental, como caminho pedagógico-espiritual pelo quais os fiéis vão se configurando a Cristo, sem deixar de lado o necessário diálogo com a piedade popular.
Manifesta uma compreensão dos sacramentos como memorial da morte e ressurreição do Senhor nas diferentes etapas da vida, sinais de comunhão com Deus, em Cristo pelo Espírito Santo. Valoriza igualmente os sacramentos (bênçãos, exéquias....), o Ofício Divino, a música e o espaço litúrgico, como expressão do ministério pascal e alimento da fé.
Por fim, fala da necessidade da inculturação, para que a liturgia se expresse no ritmo, nos gestos e símbolos das diferentes culturas. E para que se leve adiante o processo de renovação litúrgica proposta pelo Concílio, apresenta como indispensável à organização da Pastoral litúrgica que inclui cuidados com a celebração, com a formação dos ministros e do povo e com a articulação da vida litúrgica nos diferentes níveis eclesiais, levando em conta a realidade histórica, cultural e social, de tal maneira que a liturgia seja de fato cume e fonte da vida e da espiritualidade.

c) Ministério da Caridade:

Referindo -se ao ministério da Caridade, o texto das Diretrizes cita Bento XVI: "Se as fontes da vida da Igreja são a Palavra e o Sacramento, o centro da vida cristã é a caridade, o amor-doação, o amor que vem de Deus mesmo". Em continuação, é dito que “o amor cristão tem duas faces inseparáveis: faz brotar e crescer a comunhão fraterna entre os que acolheram a Palavra do Evangelho (a koinonia, a partilha dos bens, a solidariedade) e leva ao serviço dos pobres, ao cuidado para com os sofredores, ao socorro de todos os necessitados, sem discriminação". Daí a necessidade de “ratificar e potenciar a opção preferencial pelos pobres", implica na fé cristológica e que deverá atravessar todas as estruturas e prioridades pastorais, manifestando-se em opções e gestos concretos" (nº. 82).
Depois de evidenciar os inúmeros desafios para a vivência da caridade no mundo de hoje, em uma sociedade complexa, com novas situações de exclusão, envolvida pelo fenômeno da globalização, as Diretrizes concluem: "A vivência da escuta da Palavra, da comunhão fraterna e do compromisso com a justiça alimenta e expressa a espiritualidade batismal, que configura o cristão com Cristo, o qual por amor entrega a sua vida para que todos tenham vida" (n. 87).

Finalizando

O texto das Diretrizes, sobre a espiritualidade do discípulo missionário, afirma que ele alimenta-se constantemente “da escuta da palavra de Deus no livro da Escritura quanto no livro da vida: da participação na eucaristia e demais celebrações; da oração generosa aberta a Deus á sua presença na realidade humana; do abandono ao Espírito que precede a ação do evangelizador; da doação de si mesmo no serviço dos demais" (101). Vemos aí os ministérios aos ministérios da Palavra, da liturgia e da caridade plenamente integrados, em harmonia e complementaridade, como era para os primeiros discípulos, “assíduos no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações" (At 2,42).
Como vimos o próprio Ritual de Iniciação cristã de Adultos, pelo qual alguém se torna cristão/ cristã, está como que estruturado sobre essa trilogia (Palavra, Liturgia e Caridade). Vejamos, por exemplo, no “rito da apresentação" dos candidatos que participaram do catecumenato e que então serão "eleitos" para receberem, na Virgília Pascal, os sacramentos do Batismo, da Crisma e da Eucaristia. Diante da comunidade os que serão eleitos, junto com o padrinho ou madrinha, aproximam-se de quem preside. O presidente pergunta a os padrinhos: “Ouviram eles a palavra de Deus anunciada pela igreja? Então vivendo na presença de Deus, de acordo com o que foi anunciado? Têm participado da vida e da oração da comunidade?” É um testemunho público a respeito da conduta, da vida destes que querem assumir a fé cristã, a respeito de como eles estão vivendo, na prática, o ministério da palavra, da Liturgia e da Caridade.
Sem dúvida alguma, as Diretrizes Gerais são um ótimo referencial para continuarmos a empreender todos os esforços a fim de animar e fortalecer a pastoral litúrgica em nossas comunidades. Sugerimos que as equipes de pastoral litúrgica, em sintonia com as demais pastorais, reservem um tempo para o estudo e o aprofundamento das novas Diretrizes aprovadas pelos bispos do Brasil. O primeiro passo é ler e estudar todo o documento. Depois dessa visão geral, podem-se aprofundar os números 61 a 101 que falam do tríplice ministério - Palavra, Liturgia e Caridade, sublinhando as descobertas e desafios, em confronto com a prática da comunidade (revista de liturgia julho/agosto 2008).

Colaboração: Pe. Rui da Silva Braga
Paróquia Maria Mãe de Deus – Cabedelo PB


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