Santos Anjos da Guarda (02 de outubro)


A primeira manifestação de uma comemoração dos Santos Anjos da Guarda aparece em 1411 em Valência, na Espanha. Em 1590, o papa Sisto V concedeu a Portugal um Ofício especial. Da Espanha e Portugal esta memória passou para o Calendário romano, em 1608. 

Creio que todos nos lembramos, na nossa infância, daquelas figuras da criança protegida por um anjo ao atravessar uma ponte arruinada! A comemoração dos Anjos da Guarda está mais na compreensão comum da fé do que no nível da discussão teológica. 

A Igreja, em sua piedade, sempre acreditou na existência não só de anjos em geral, dos quais nos falam repetidamente as páginas da Sagrada Escritura, mas também de anjos destinados a guardar e proteger os homens na caminhada terrestre. 

Na História da Salvação, Deus confia aos anjos o encargo de proteger os patriarcas, os seus servos (Sl 90, 11-13) e todo o povo eleito (Ex 23, 20-23). No Novo Testamento o papel dos anjos é mais claro. Os anjos anunciam o nascimento de Cristo e acompanham a vida toda do Divino Mestre. Aparecem por ocasião de sua paixão e morte e são testemunhas de sua ressurreição. Igualmente nos Atos dos Apóstolos é bem evidente a intervenção dos anjos que vai marcando os primeiros passos da Igreja. Eles tomam parte ativa nos progressos do Evangelho, manifestando assim que a comunidade eclesial se liga intimamente ao ministério de Cristo. 

O autor da Carta aos Hebreus dá testemunho disso quando escreve, falando dos anjos de Deus: Não são todos eles espíritos servidores, enviados para servir os que devem herdar a salvação? (Hb 1, 14). 

Para justificar a existência dos anjos da guarda poderemos citar primeiramente o Sl 90, que se refere ao futuro Messias, fala explicitamente que Deus mandou seus anjos guardar o Messias: Em todos os seus passos, eles o sustentarão em suas mãos para que não tropece em alguma pedra. Se Cristo, em sua humanidade, apesar de unida com a Divindade, era continuamente protegido por anjos, muito mais devemos ser nós, seus membros. Certa vez, Jesus, falando das crianças, que propunha como modelos de inocência, de simplicidade e de docilidade, teve palavras fortes contra os possíveis escandalizadores das crianças e acrescentou: Cuidado para não desprezar um desses pequeninos, porque eu vos digo que seus anjos estão continuamente no céu, na presença do meu Pai celeste (Mt 18, 10). Quando Pedro, libertado da cadeia, por intervenção de um anjo (At 12, 7-9; cf. tb. At 5, 19), se dirigia à noite à casa do amigo Marcos, bateu à porta, mas de dentro não se atreviam a abrir, embora reconhecendo que fosse sua voz, pois diziam: Deve ser o anjo dele (At 12, 15). Esta frase faz pensar na convicção dos primeiros cristãos relativa à existência de um anjo que acompanha cada um de nós. Esta é, de fato, a crença universal e pacífica da Igreja em todos os tempos. 

Os temas da proteção e dos anjos como guias perpassam toda a Liturgia. Eles são vistos como seres que bendizem o Senhor e cantam a sua glória e o louvam eternamente e os fiéis são convidados a louvarem a Deus na presença dos anjos (cf. Antífona da entrada e da Comunhão). 

A Oração coleta reconhece que Deus na sua providência manda os seus anjos para guardar-nos. Na Oração sobre as oferendas a Igreja pede que as nossas oferendas em honra dos Santos Anjos façam com que eles nos guardem dos perigos desta vida e nos levem à vida eterna. Na Oração depois da Comunhão se pede que Deus nos guie por meio dos seus Anjos no caminho da salvação e da paz. 

Podemos dizer que toda a celebração se volta para Deus que, na sua providência, coloca seus espíritos amigos, que o louvam e glorificam, a serviço dos seres humanos no caminho da salvação e da paz. 

Importa que sejamos gratos a Deus por nos proteger e guiar pelos seus anjos, que nos unamos a eles na glorificação de Deus como o somos convidados a fazer em cada Missa na hora do Santo, e que todos também sejamos cada vez mais anjos do Senhor, mensageiros da Paz e do Bem, mensageiros do Cristo morto e ressuscitado.


Por Prof. Felipe Aquino

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